quarta-feira, 12 de maio de 2010

Calabar: Sofrimento por toda a vida


“Tem dias que não consigo sair de casa para trabalhar, o cheiro do esgoto é muito forte”. Essa é a realidade de Neuza Ferreira Maia, 39, e de alguns moradores do bairro do Calabar. Localizado no meio de uma zona nobre de Salvador, cercado de prédios e apartamentos luxuosos, o bairro sofre com um problema que há décadas vem atormentando os moradores; esgoto a céu aberto.
Com aproximadamente 22 mil habitantes, os moradores do bairro ou favela, como algumas pessoas o denominam, enfrentam os mais diversos problemas decorrentes dos esgotos a céu aberto existentes na comunidade. Ratos, mosquitos, baratas, cobras e tantos outros insetos, tomam conta das ruas e casas, deixando a população totalmente intranqüila. “Tem dias que fico com medo de entrar em minha casa. São tantos insetos, que eu e meu marido ficamos atrás tentando pegar e matar”, afirma Leda Santos, 47, empregada doméstica.
Segundo dados do ministério da saúde, no Brasil cerca de 80% a 90% das internações hospitalares são causadas pela água, e provocam diversas doenças como a cólera, malária, leptospirose, diarréia, tuberculose entre outras. No Calabar não é diferente. A falta de saneamento básico, melhores condições de higiene e uma rede de esgoto são problemas que atormentam os moradores.
De acordo com a Embasa, desde 1995, o programa Bahia Azul representa o maior conjunto de obras e ações na área de saneamento e meio ambiente que o Governo do Estado realiza, tentando solucionar principalmente os problemas dos bairros periféricos de Salvador. Recursos foram aplicados em esgotamento sanitário e abastecimento de água. De acordo com a empresa, a execução do programa melhorou as condições sanitárias e higiênicas dos bairros necessitados de Salvador.
Gilselia Almeida, 40, dona de casa, vive no bairro há 40 anos e se diz desacreditada com os governantes e políticos que a seu ver nada fazem. “Quando chega à época de campanha, é tanta gente pedindo voto aqui, prometendo desentupir os esgotos, prometendo melhores condições de vida, mas ao passar as eleições, desaparecem do mapa. Semana passada, choveu dois dias seguidos e entupiu tudo aqui, chamei a Embasa e até hoje estou esperando”, desabafa a moradora.
A Embasa explica que diariamente realiza intervenções no bairro, decorrente das reclamações da população. Segundo a empresa, a maioria dos problemas com esgotos são provocados pelos próprios moradores, que jogam lixo nos córregos e nas valas, provocando diversos problemas para a comunidade. A empresa reafirma que realiza projetos nas comunidades de toda a cidade idealizando um melhor saneamento básico e condições de higiene.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a presença de esgoto a céu aberto é a alteração ambiental que mais afeta a população. O Brasil tem 10,4 milhões de domicílios que não tem esgotamento sanitário adequado.
Segundo o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o esgotamento sanitário faz parte dos indicadores de desenvolvimento humano em que o Brasil está mais atrasado.
Esse é um problema que perturba os moradores do Calabar. Sem uma solução e sem perspectivas de melhora, o drama continua entre os moradores e fica no ar uma esperança de uma vida mais descente. “Até quando iremos conviver com isso?”, indaga Lúcia Maria Barbosa, 58, secretária.

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